Escrito por Fernando Corrêa Pinto
- “O cão late quando seu dono é atacado. Eu seria um covarde se visse a verdade divina ser atacada e continuasse em silêncio, sem dizer nada.”
João Calvino
Um grande Perigo que missionários correm é o de não saber
defender a sua fé. Um missionário constantemente está inserido em diversas
culturas e diante disto pode haver influência e pressão demasiada da cultura
local. Caso esse problema ocorra, algumas confusões podem ocorrer. Um exemplo é
quando missionários são pressionados por movimentos políticos a tomar a forma
do chamado politicamente correto. Temos vivido atualmente pressões fortíssimas
de grupos como LGBT, movimentos socialistas além das pressões naturais do
mundo. Neste sentido o estudo da apologética é fundamental.
Certamente, discutir sobre o assunto apologética neste tempo
é uma tarefa no mínimo delicada e para alguns até ofensiva. Este encargo se
torna ainda mais custoso quando aquele que lida com o assunto também pode ser
considerado como um religioso.
Farei menção de forma sucinta ao conceito de cosmovisão e
apresentarei o conceito de apologética e seus desdobramentos com a finalidade
de fazer com que o estudante de teologia entenda sobre o assunto. As
relevâncias destes temas são fundamentais pelo fato de alguns trabalhos de
teologia buscarem a defesa dos temas apresentados.
Como já mencionei iniciaremos do ponto de partida do
cristianismo, e consideraremos a visão cristã, como de fato é, a revelação de
Deus para salvação da humanidade e verdade absoluta acerca de Deus e toda a sua
obra. Neste sentido, entendamos um pouco sobre a questão da cosmovisão cristã.
Todas as pessoas possuem uma visão de mundo, quer elas
saibam disso ou não. Poderíamos dizer que ninguém possui uma visão neutra do
mundo. Algo que na ótica de um homem do norte do Brasil tenha um sentido, para
alguém do Sudeste do mesmo país pode ter um outro sentido bem diferente. Essa
diferença se torna muito mais acentuada quando mudamos de país. Alguns
estudiosos dizem que a cosmovisão de uma individuo é como uns óculos, contudo
eu prefiro dizer que ela é o próprio olho do indivíduo. Nós acordamos com nossa
visão de mundo e estamos com ela mesmo quando estamos dormindo.
Infelizmente essa visão, quando falamos de ambientes não
cristãos, é formada na maioria dos casos pela cultura popular de cada região.
Percebemos a música, programas de TV e redes sociais ditando comportamentos e
norteando a visão de mundo de uma sociedade.
Contudo, pensando em uma cosmovisão cristã, vejamos o que
Paulo afirma:
“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim
poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e
toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo
todo o entendimento à obediência de Cristo”
Quando o assunto é ter uma visão de mundo com as lentes
corretas precisamos substituir a maioria de nossos conceitos aprendidos pelo
conselho da palavra de Deus. Aqui reside um divisor de águas. Se você não
acredita que a Bíblia Sagrada é a Palavra do único Deus vivo e verdadeiro, não
é possível continuar a reflexão. Sugiro que você abandone a leitura. Mas,
partindo do pressuposto que você compreende e aceita esta verdade, podemos
afirmar que todo comportamento e atitudes que resultarão em agradar a Deus
passarão antes pelo filtro das escrituras.
Neste sentido, cabe uma observação acerca dos ataques que a
Bíblia tem sofrido ao longo do tempo. O ataque mais comum que naturalmente
escutamos é que ela seria supostamente falível. Outro ataque mais sutil e
velado é que as Escrituras não seriam suficientes para nos dirigir e orientar.
Lutero se deparou com problemas semelhantes no início da
reforma. Apelidados por Lutero como “os profetas de Zwickau”, um grupo alegou
que havia recebido revelações especiais vindas de Deus. Estas revelações
consistiam em que ninguém precisaria mais estudar teologia, visto que Deus
havia dado por meio de Seu Espírito aos pobres e ignorantes inspiração para
completar a reforma. Acreditavam que o fim dos tempos estava próximo e que os
ímpios seriam exterminados. Estes também questionavam constantemente o valor da
Bíblia.
Esta forma de misticismo ainda está presente na igreja hoje.
Existem grupos pseudo cristãos que se utilizam da Palavra de Deus apenas quando
lhe convém. Estes grupos colocam a experiência pessoal acima das Escrituras e
descartam o valor do estudo teológico. Me parece que o eixo hermenêutico está
tendendo, na atualidade, para retornar à tradição como era na época em que
antecedeu a reforma. Essa triste afirmativa deve nos colocar em alerta, pois
não podemos perder de vista o fundamento de nossa fé.
(2 Ts 2:15). Percebemos que existe um valor fundamental em
uma tradição que é recebida por meio da Palavra. A Bíblia é a única autoridade
infalível da igreja, não que não existam outras autoridades que devamos
respeitar, contudo nenhuma destas podem ser consideradas como infalíveis ou
detentoras de uma revelação especial que irá complementar o que a Bíblia
ensina.
A Bíblia não é um livro qualquer, sua origem está no próprio
Deus que falou a homens separados para registrá-la. Deus separou
intencionalmente indivíduos de carne e osso, sujeitos a todo tipo de problemas
que qualquer ser humano enfrenta. Nela podemos ver homens falhos como Davi, que
foram infiéis como Sansão e até alguns atrapalhados como Pedro e Abrão. A
Palavra não esconde os erros dos seus protagonistas, e este é um motivo a mais
para lhe dar crédito. A Bíblia é um livro que traz o homem para a luz. Deus
revelou Sua Palavra, dirigiu, inspirou e preservou os Seus registros. Podemos
afirmar com toda segurança que ela é inerrante em tudo que ensina.
Sendo assim permanecemos seguros e confiantes na Palavra de
Deus. Por meio dela podemos buscar entender e conhecer mais sobre aquele que
nos criou, adorá-lo e imitá-lo.
1.1 DEFININDO APOLOGÉTICA
Ainda considerando as afirmações acima, é preciso definir o
entendimento de apologética, farei isso de forma resumida, mas antes disso,
precisamos considerar as Escrituras que fazem algumas afirmativas.
Houve entre o povo, falsos profetas, como entre vós haverá
também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e
negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.
E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será
blasfemado o caminho da verdade.
E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre
os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não
dormita. (2Pe 2,1-3)
Considerando que, não só hoje, mas, também nos tempos
antigos o problema dos falsos ensinos foi uma realidade, precisamos considerar
a Palavra de Deus em primeiro lugar.
O Apóstolo não fala somente que surgirão os falsos ensinos,
mas que, muitos seguirão a estes mestres. Desta forma é imprescindível conhecer
estas heresias e buscar possibilidades de refutá-las. Esse trabalho não se
trata meramente de uma batalha entre opiniões que se divergem, todavia,
perceber tais contradições tem valor evangelístico e eterno.
A palavra apologética
vem do latim apologetĭcus, e do grego ἀπολογητικός, derivada de
"apologia", também do grego απολογία: "defesa verbal"). Trazendo
para a cosmovisão cristã podemos elaborar o conceito de Apologética Cristã.
Desta forma, podemos definir a Apologética Cristã como a disciplina que estuda
a teologia com o fim de defender a fé Cristã de seus constantes ataques.
Existem várias escolas apologéticas e se faz necessário conhecer algumas delas,
coisa que faremos resumidamente na sequência.
1.2 ALGUNS MÉTODOS APOLOGÉTICOS.
Existem 5 métodos de estudo de apologética, nesse momento
não será possível discorrer sobre cada um deles, todavia farei referência
destacando seus pontos mais relevantes para entender as diferenças. São eles os
métodos: clássico, evidencial, cumulativo, pressuposicional e a epistemologia
reformada.
O método Clássico, como a própria palavra já sugere, faz
referência aos métodos dos apologétas antigos, principalmente medievais e
reformadores. Esse método considera a teologia natural como algo básico,
considera as evidências históricas e as Escrituras como demonstração de que o
cristianismo é a verdadeira religião.
O método evidencialista é bem parecido com o clássico,
contudo, ele considera o valor dos milagres como evidência da existência de
Deus, coisa que o anterior não utiliza.
Método caso cumulativo surge dialogando com os dois
anteriores e vai além. Ele não utiliza somente o raciocínio indutivo. Ele tenta
explicar também a natureza cósmica e a experiência.
O método pressuposicional parte do ponto de vista do
cristianismo. Deus torna todo argumento possível e anula as reflexões dos
incrédulos a respeito do tema considerando que sua cosmovisão é
inadequada.
Meu objetivo aqui não é aprofundar nestes temas, mas
despertar o leitor para o estudo dos temas sugerindo que o pesquisador escolha
a escola que será mais relevante para a sua apologética. Contudo, entendo que a
visão Clássica é o melhor caminho a ser seguido. Este pensamento esteve
presente no período medieval e entre os reformadores.
Aqui podemos considerar os Escrito de Justino Mártir que foi,
após os apóstolos, quem desenvolveu uma apologética para refutar as acusações
que os cristãos estavam recebendo no segundo século.
Minha opinião sobre a cosmovisão cristã e a apologética, é
que são necessárias e fundamentais tendo seu lugar de suma importância na
teologia. Desde tempos Antigos a fé cristã sempre foi alvo de ataques e hoje
não é diferente.
Há alguns anos atrás, buscávamos nos defender das novas
seitas que surgiam e da migração do hinduísmo do oriente para o ocidente. Hoje,
porém precisamos nos atentar a todos os ambientes, escolas, universidades,
partidos políticos e até pseudo igrejas evangélicas que nos desafiam a
apresentar respostas bíblicas e coerentes para refutar as heresias modernas.
Alguns entendem que a eficaz apologética vem do desprezo
total a todas as filosofias, métodos, ideias, teorias e religiões que não sejam
cristãs. Concordo em parte com essa afirmação por considerar que diversas
teorias e métodos podem estar baseados nas escrituras. Minha consideração final
neste ponto é que devemos estar sempre apoiados na Palavra Deus, para que
sejamos eficientes em nossa apologética e exerçamos uma prática missionária que
glorifique a Deus e seja incontaminável.